MAXIMINO
E O “LICOR DE LA SALETTE”
Maximino contempla Nossa Senhora subindo aos Céus
O
Prof. Francisco Castro enviou-nos há tempo um pedido, enquanto dávamos cursos
na Europa.
Pedindo
sua compreensão pelo atraso na resposta, aqui vai ela.
Do Prof.: Francisco Castro:
PAX!
Li o seu livro sobre as Aparições de Nossa Senhora em La
Salette. Antes já havia lido um texto sobre as mesmas e fiquei intrigado com o
que escreveram sobre Maximino, um dos videntes.
Seu livro afirma que foram calúnias mas um texto diz que ele
quis vender um vinho com o nome Salette.
Afinal ele foi uma pessoa que realmente deu motivos para o
difamarem embora tenham aumentado?
Creio que as aparições de La Salette foi uma das únicas em que
nossa Senhora se referiu às faltas do clero. Como são atuais a descrição que
ela faz dos padres. Parecem escritas hoje. Isso deve ter criado dificuldades e
suspeitas. Gostaria de esclarecimentos sobre os videntes.
Att. Prof. Francisco Castro.
++Jesus-Maria
De
fato, o caso do vinho ‒ ou, melhor, do licor ‒ de La Salette serviu para uma
das acusações mais intensamente divulgadas contra Maximino.
Hoje
em dia a crítica histórica não aceita mais essas alegações tendo ficado
demonstrado que Maximino, angustiado pela miséria e pela doença, caiu numa
arapuca de um comerciante inescrupuloso. A sociedade durou pouco e o
comerciante desavergonhado desapareceu. Esta posição encontra-se até nas fontes
mais modernizadas, como a Wikipedia.
Entretanto,
o caso foi mais complicado, e não queremos ficar apenas em fontes pouco
autorizadas.
A
complicação provém do fato de Maximino não só ter sido logrado pelo comerciante
inescrupuloso, mas também pelos padres do Santuário e pelo próprio bispo de
Grenoble. Estes professavam uma animada versão visceral em relação aos
videntes, malgrado os pastores cumprissem conscienciosamente as obrigações de
todo fiel diocesano para com suas autoridades eclesiásticas.
Maximino
solicitou autorização deles por escrito. Não recebeu resposta, salvo um recado
aprobatório. Como na praxe eclesiástica o silêncio equivale a uma aprovação
tácita. Maximino entrou no negócio, porém essas autoridades caíram em cima de
sua reputação.
Henri
Dion, autor de numerosos livros e especialista no caso de La Salette fez, com
uma erudição bem superior à nossa, uma cuidadosa reconstituição histórica do
fato. Deixo a palavra com ele:
“Os
pedidos de ajuda que Maximino enviou aos missionários de La Salette e ao bispo
de Grenoble na primavera de 1869 não foram atendidos. Ou, mais bem, as
condições que lhe impuseram em troca de alguns subsídios foram duras demais.
Ele ficou obrigado a escrever aos Jourdain [N.T.: seus pais adotivos]:
“Os missionários de Nossa Senhora de La Salette, o Pe. Giraud
[N.T.: superior desses missionários] o primeiro deles, foram admiráveis em
relação a mim e a vós. Eles foram se pôr aos pés de Monsenhor [o bispo
diocesano] para lhe suplicar que viesse nos ajudar. Seu coração de bispo foi tão duro e frio quanto o gelo”.
“O
encontro, pouco depois, em outubro de 1869, com um certo Alfred Vivier,
licorista de Varces, do departamento de Isère, que Maximino não conhecia e que
veio lhe propor uma associação, talvez pareceu para ele algo providencial.
“Não
há mais necessidade de demonstrar a ninguém que o episódio do comércio do licor
não foi mais que um deplorável incidente.
Nele, a candura do pastor foi abusada,
num combate muito desigual, pelas
manobras desonestas de um verdadeiro falsário, sem que Maximino tivesse se
comprometido ou mesmo suspeitado um só momento.
Túmulo de Maximino em Corps
“Porém,
antes de se lançar nesta nova iniciativa, Maximino teve o escrúpulo de
solicitar, enquanto pedia a mesma coisa a seus pais adotivos, a aprovação do bispo de Grenoble e dos
Missionários de La Salette. Ele pediu:
“se ele podia em consciência imitar os Cartuxos, os Trapistas,
os Beneditinos e outros religiosos que fabricaram e venderam um licor que leva
seu nome... Ele recebeu após vários meses de espera um recado dizendo que Mons.
Ginhoulhiac e os Missionários de La Salette deixavam-no perfeitamente livre de
emprender o que bem achasse, porém com proibição de comparecer nas instituições
diocesanas. Tendo esgotado todos seus recursos, desencorajado, vencendo suas
mais vivas repugnâncias, ele se associou com um certo Vivier, habilidoso demais
para Maximino e que tirou em três anos de sociedade mais proveito do que ele do
licor salettino”.
“O
pobre Maximino passou muita dificuldade para se sair deste penoso negócio, pois
o sócio apropriou-se praticamente de todos os lucros antes de desaparecer com o
dinheiro que ficava e todo os pertences da empresa. Quando a sociedade foi
dissolvida por decisão da justiça, ele não pôde reclamar nenhuma indenização.
Ele não tinha recursos para tocar o processo judiciário e ele quis poupar
Vivier da prisão.
“Malgrado tivessem dado seu consentimento
e malgrado as dificuldades evidentes demais de Maximino, os Missionários de La Salette não hesitaram, no início de 1871, em publicar em seus “Anais” um artigo que
causou indignação:
“A respeito de um licor, dito de La Salette, e de folhas de
propaganda que se espalham por toda parte relativos a ele, nós devemos declarar
mais uma vez que a comunidade dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette
nada tem a ver com a fabricação desse licor, nem com a comercialização que se faz
dele”.
“Um
outro artigo, do mesmo estilo, apareceu dezoito meses mais tarde nos “Anais de
La Salette” de junho de 1872. A despeito de um protesto forte mas muito
mesurado de Maximino, o jornal “Le Temps” publicou uma carta recebida “de uma
personalidade ainda mais alta que o Rev. Pe. Superior dos Salettinos”:
“Eu deploro tanto como vós o comércio de licor feito com base na
montanha de La Salette. É uma especulação miserável que fere profundamente meu
coração cristão e todos meus religiosos partilham minha tristeza. Se vós
conheceis um meio de corrigir esse abuso sem ferir a liberdade dos outros, que
eu respeito sempre ainda quando me faz mal, fazei-o chegar até nós. E a
desordem cessará logo. Não há pacto algum, nem público nem segredo entre meus
religiosos e os autores de esta iniciativa comercial”.
(...)
“É penoso ter que citar estes documentos que desmascaram uma hostilidade e um
encarniçamento tanto mais insuportáveis quanto praticados por aqueles que
deveriam ser os primeiros em proteger e ajudar a Maximino. Trata-se de
testemunhos esmagadores, mas que
permitem apreciar a intensidade e a virulência das provações sofridas pelo
pastor, mais dolorosas talvez que a miséria negra que elas trouxeram por
acréscimo, porque causadas por uma maldade
puramente gratuita.”
(Fonte:
Henri Dion, “Maximin Giraud, Berger de La Salette, ou La fidélite dans
l’épreuve”, Éditions Résiac, Montsurs, 1988, 290 p., págs.207-209)
Loja instalada nos fundos da casa natal de Maximino
Atualmente,
na casa natal de Maximino (foto acima) funciona uma destilaria que produz
licores, entre os quais o “Salettina”, o “Citronello” italiano e outros,
explorando turisticamente o fato de funcionar na casa da pobre família do
pastor.
Quando
peregrinamos a La Salette em 2008, visitamos o local, mas a casa e a loja
estavam fechadas. Conhecedores da cidade apontaram pertencer a um cidadão do
qual não faziam precisamente elogios. Na Internet há um site desta loja com
propaganda dos licores. Ninguém vê qualquer relação entre o caso do licor de Maximino
e essa loja, salvo o comerciante ali instalado com objetivos de propaganda.
Fonte:
A Aparição de La Salette e suas Profecias:
http://aparicaodelasalette.blogspot.com.br/
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